Crítica: em 'Anti', Rihanna mostra a criatividade e o poder do pop negro


Cantora antecipou para esta quinta o lançamento de seu primeiro disco desde 2012


Rihanna, em show no Palco Mundo do Rock in Rio, em setembro de 2015 - Pablo Jacob / Agência O


RIO - Desde que surgiu no cenário, uma década atrás, Rihanna não costuma dar tiro n’água. E quando mais se esperava dela (seu último álbum, “Unapologetic”, é dos tempos ancestrais de 2012), a estrela pop de Barbados entrega um disco com tudo para movimentar 2016 meses a fio. Ninguém vai sentir falta de “Bitch better have my money”, “FourFiveSeconds” ou “American oxygen” em “Anti”. Para Rihanna, a fila anda. A moça não só confia no seu próprio taco, como tem ao alcance dos dedos os principais produtores do mercadão e do underground. E o trabalho conjunto deu num daqueles álbuns que podem até não ser a revolução que o produtor Kanye West se gaba de fazer a cada disco seu, mas que dá uma boa medida da criatividade e da força que o pop negro tem hoje na grande briga pela atenção do público jovem do planeta.


“Tenho que fazer as coisas / do meu jeito, querido / Você vai deixar? / Você vai me respeitar? Não / Fazer minhas próprias coisas, querido / Você deveria deixar / Será que um dia você vai me deixar crescer?”. Esta é Rihanna dando a letra em “Consideration”, ragga feroz e esfumaçado com a cantora SZA que abre “Anti”. A conexão caribenha persiste em “Work”, primeiro single do disco, na qual a cantora ganha o ouvinte com o palavrório embebido em melodias hipnóticas. A participação do rapper Drake é um grande trunfo da faixa — inevitável deixar de reconhecer ali a voz onipresente nos últimos meses por causa do sucesso arrasador da faixa “Hotline bling”.

“Anti” tem um lado mais áspero, de bases musicais mais abstratas, fortamente baseadas em samples, em que estão o blues cibernético “Desperado”, “Woo” (com a nova grande estrela da produção do hip hop Travis Scott) e “Needed me” (com o DJ Mustard, em que Rihanna manda para o inferno os bons modos: “Não te disseram que eu era uma selvagem? F*-se o cavalo branco e a carruagem”). No entanto, o romantismo é o que move boa parte de “Anti”. E das formas mais diversas. Seja ela pela via do amor em nuvens de cannabis de “James joint” ( “Aí vem a polícia / ela conhece nossa história”), quase uma vinheta no mais delicado estilo Janet Jackson; ou de “Same old mistakes”, talvez a melhor faixa do álbum: uma regravação ainda mais atmosférica e psicodélica de “New person, same old mistakes”, canção lançada em 2015 pelo grupo australiano Tame Impala (do produtor Kevin Parker) no disco “Currents”.




Capa de "Anti", novo álbum de Rihanna - Reprodução / Reprodução


No embalo romântico, ainda passam a ansiosamente radiofônica “Kiss it better”, a violeira “Never ending” e “Yeah, I said it”, produção de Timbaland com jeitão de amor ao amanhecer. Mas as boas surpresas estão nas faixas de sonoridade mais convencional e retrô, como a ótima “Love on the brain” (em que Rihanna gasta o seu soul em formato doo wop anos 1950), “Higher” (ode do amor intoxicado — “esse uísque me deixou sentindo legal / então desculpe se ficar mal-educada” — beirando Amy Winehouse) e “Close to you”, balada de piano, daquelas para quem a paixão deixou com os quatro pneus arriados. Há quem argumente que faltou no disco aquela música podrona para descer até o chão na pista. Mas até que está de bom tamanho esse “Anti”.

Cotação: Bom.


Fonte:O globo


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