Piloto de avião narra em livro a história de imigração da família Parise

 

Divulgação | Luiz Gustavo Parise


Em "Partiremos ao amanhecer", Luiz Gustavo Parise reconstrói a trajetória dos próprios antepassados após mais de dez anos de pesquisas e viagens à Itália

Divulgação | Luiz Gustavo Parise

Quando percebeu que pouco sabia sobre a realidade dos antepassados que cruzaram o Atlântico em busca de melhores condições de vida, o piloto de avião e amante de história Luiz Gustavo Parise decidiu mergulhar no passado da própria família. Foram mais de dois mil documentos lidos e analisados, dezenas de entrevistas realizadas, além de cinco viagens à Itália.

O passado dos Parise agora é retratado no romance Partiremos ao Amanhecer, obra em que o Luiz Gustavo narra desde o período pré-imigração até o estabelecimento da família no Brasil. Além da própria família, o escritor cita dezenas de outros sobrenomes de origem italiana que hoje estão em todo o Brasil.

De acordo com o piloto, ao contar a história de sua família, ele resgata também a trajetória de milhões de outros brasileiros que hoje formam uma das maiores comunidades do mundo. Conheça mais sobre o título e o processo de escrita para compô-lo na entrevista abaixo:

1 – “Partiremos ao Amanhecer” é um livro sobre a vinda da família Parise da Itália para o Brasil. Como você acredita que outros descendentes de imigrantes italianos podem se identificar com a obra?

Ao estudar o grande fluxo migratório de italianos para o Brasil, que ocorreu principalmente no fim do século XIX e início do século XX, percebi que as trajetórias das famílias eram muito semelhantes, desde a situação de fome que enfrentaram em seus lugares de origem, o estímulo por parte da Igreja Católica para a viagem, o caminho de trem até Gênova e o percurso de navio até o Brasil.

Destes imigrantes, alguns foram para o sul tomar posse de terras nas colônias que ganharam e outros, como foi o caso da minha família, seguiram para a Hospedaria dos Imigrantes e posteriormente para as fazendas de café no interior do estado de São Paulo. Por isso todas as famílias de descendentes de italianos do Brasil podem se identificar com esse relato.

2 – Para escrever a obra, você fez cinco viagens à Itália e se debruçou sobre mais de dois mil documentos, alguns deles, bem antigos. O que mais surpreendeu você nessa pesquisa?

A pesquisa foi muito extensa, e por isso várias descobertas me surpreenderam, mas posso destacar três delas.

Fiquei impressionado por entender de fato como eles viviam na Itália, em uma condição diferente da que eu imaginava, numa situação de muito mais pobreza. Foram gerações e gerações vivendo deste modo.

Da mesma forma me impactou entender as mudanças políticas e o contexto histórico da Itália a partir da metade do século XIX, além do papel de intempéries da natureza, as quais contribuíram para a insustentabilidade da situação de miséria e fome, o que os compeliu a emigrar.

Por último, foi uma grande surpresa e até posso considerar um presente, ter encontrado o registro da chegada de meus antepassados na Hospedaria dos Imigrantes da cidade de São Paulo. Foram muitos anos até que eu cogitasse a hipótese de que o sobrenome tivesse sido grafado de forma errada (situação que depois eu soube, é muito mais comum do que se imagina), e foi assim que eu encontrei a família Parise, registrados como “Páris”.

3 – O título reproduz fatos históricos relacionados com o cotidiano dos personagens. Como você fez a reconstituição dessas cenas de forma que o enredo não perdesse a veracidade?

Eu li muitos livros sobre a história daquela região, o que me permitiu mergulhar no contexto de cada época, além de descobrir detalhes sobre a fundação de Adria, que é uma cidade muito velha, inclusive há relíquias dos etruscos no local.

Teve também a época de domínio do Império Romano na região, depois disputas de poder entre reinos italianos, as invasões do exército de Napoleão Bonaparte e posteriormente, a conclusão do processo de unificação italiana, em 1871.

São vários os desafios quando se tem o compromisso de ser fiel a fatos, porém os meus principais foram: apurar e relatar os acontecimentos dos quais temos registros conforme os livros de história, usar com fidelidade as datas de nascimento, batismo, casamento e óbito que encontrei nos registros das igrejas e cartórios sobre os personagens.

4 – O Brasil tem incontáveis publicações sobre imigração italiana. Qual o diferencial de “Partiremos ao Amanhecer”?

Realmente temos muitos livros sobre a imigração italiana, mas “Partiremos ao Amanhecer” é o único que conheço escrito em forma de romance histórico, com uma leitura cativante, comprometido com a veracidade dos fatos e tendo como personagens principais as pessoas da família do próprio autor.

O cotidiano deles foi contado de forma a se entrelaçar com acontecimentos e personalidades muito conhecidas na história da Europa, como o Papa Pio VI, Napoleão Bonaparte, os Dodges da República de Veneza, entre outros.

Ao ler essa obra podemos entender como eles tinham pouquíssima ideia do que era o Brasil e podemos acompanhá-los deixando para trás tudo que conheciam, enfrentando a travessia do Atlântico e chegando ao Brasil Império para substituir os escravos nas lavouras de café. A família Parise é mais uma das milhares que vieram durante o grande fluxo migratório de europeus para o Brasil a partir da década de 1870 em busca de um sonho.

5 – Sua visão sobre seus antepassados mudou com a produção desse livro? Se sim, de que forma?

Sim, mudou de maneira significativa, pois, como já mencionei anteriormente, imaginava uma realidade bastante distinta da que encontrei durante a pesquisa. E a verdade que eu descobri é que sabia muitíssimo pouco sobre minhas origens


Divulgação | Luiz Gustavo Parise


Créditos: Julya de Oliveira 


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